No Meu País Era Assim | Isabella Souza

O Natal é sem dúvida uma época mágica, é uma data tão enraizada nas nossas vidas que muitas vezes nem sequer paramos pra pensar que ele pode ser muito diferente de família para família e de cultura para cultura. Cada país e cada povo terá, portanto, uma tradição que, apesar de partir do mesmo princípio, difere em pequenos detalhes, mas que faz toda a diferença. Eu, por exemplo, sou brasileira e nasci na cidade do Rio de Janeiro, e me lembro que o natal sempre foi a minha festividade favorita. O Natal na minha cidade é muito animado. Todos os anos, as preparações começavam bem antes dele acontecer realmente. Tínhamos de decidir entre a família na casa de qual tia ou tio ele seria, quem iria levar o que, fazer o sorteio do amigo oculto e esse tipo de coisas. Eu vim de uma família muito numerosa, então todos os anos era casa cheia. Todas as minhas tias, tios e primas estavam sempre presentes, e era uma alegria encontrar os primos que não via muito durante o ano. Lembro-me bem, que todos os anos nas vésperas de natal acordávamos bem cedo para começar a preparar os pratos que iríamos servir na ceia. Eu, como era pequena, não fazia grande coisa, mas ajudava a minha avó a cortar os legumes e fazer as saladas sempre que ela me deixava. A mesa era sempre muito farta, não podiam faltar os pratos típicos que todo o ano estavam presentes na mesa. Na minha família tínhamos sempre o peru natalino, e o arroz com uvas passas. Sim, no natal as mães colocam uvas passas em tudo! Tínhamos também o prato de peixe, que geralmente era bacalhau no forno, feijão, que certamente não pode faltar na mesa do brasileiro, acompanhado com uma farofinha de bacon, a salada maionese e o salpicão. Podia haver variações, mas o básico sempre se mantinha. Na mesa dos doces, tínhamos sempre pudim de leite condensado, arroz doce, bolo de chocolate feito sempre pela minha tia Marineide, que é o melhor bolo de chocolate da vida, sem dúvida alguma, o panetone e as rabanadas que eram a minha sobremesa favorita e que, no dia a seguir, ficavam ainda melhores. Apesar dessa comida toda ficar pronta por volta do jantar, na minha família pelo menos, a tradição era começarmos a comer à meia-noite, quando pra nós passa realmente a ser natal. Então esperávamos todos ansiosamente a chegada da meia noite para cearmos e abrirmos os presentes. Durante o tempo de espera, estávamos sempre todos juntos a dançar, a ouvir música e a conviver, os adultos com a suas cervejas e as crianças a correr pelo quintal de pés descalços. Outra coisa que certamente é muito diferente do natal europeu é o clima, no Brasil durante o mês de dezembro, estamos no Verão, então faz sempre muito calor no natal, e por isso as roupas são bem mais frescas. Todo o ano íamos às compras para estarmos no nosso melhor para a chegada do “Papai Noel”, que é como nós chamamos o Pai Natal por aqueles lados. Assim como nós, a casa estava sempre muito enfeitada, com “piscas-piscas”, que são as luzes de natal por dentro e por fora da casa, arvore de natal lotada de enfeites e, normalmente, um Papai Noel no telhado. O natal por lá sempre foi uma grande festa, era uma noite de muita alegria, mas sempre gerava alguma discussão entre alguma tia ou primo que era de lei. Não sei nas outras casas, mas na minha sempre as houve, o que até hoje é motivo de risos e boas histórias. Ficávamos sempre acordados até muito tarde e a festa costumava sempre entrar noite a fora, por isso, a maior parte das vezes, ficávamos a dormir na casa da tia ou da tia que tinha fornecido a casa naquele ano. Vim de uma família bem humilde, então eram casinhas pequeninas, mas nós arranjávamos sempre maneira de abrigar a todos. Uns dormiam e cima dos outros, todos juntos e misturados em camas improvisadas e bem apertadinhos; mas confesso que adorava essa parte. Eu e os meus primos ficávamos sempre a conversar escondidos depois que todos já tinham adormecido e, muitas vezes, levávamos uma “bronca” da minha avó ou de alguma tia, mas valia muito a pena. No dia 25 propriamente, acordávamos bem cedo, e fazíamos o chamado “enterro dos ossos”. A família toda se reunia novamente. Os que tinham ido embora na noite anterior voltavam sempre para almoçarmos e jantarmos os restos da ceia, e fazer um churrasco também. O “enterro dos ossos” durava sempre o dia todo e parte da noite também, chagávamos a casa sempre por volta das onze da noite muito cansados, mas com o coração quentinho de mais um natal super feliz com a nossa família. Apesar de não termos muitas posses, sempre tínhamos natais muito alegres, e toda a gente ganhava prendas mesmo que fossem coisas simples, mas para mim o mais importante nunca foram as prendas, apesar de ser criança e adorar receber brinquedos, o mais importante para mim era mesmo o convívio que nós tínhamos sempre e o tempo de qualidade que passávamos juntos. Sinto muita falta dos natais com a família toda reunida. Hoje, do outro lado do mundo, os natais são um pouco mais tristes que o habitual, com muita saudade e muitas chamadas de vídeo para nos sentirmos nem que seja um pouquinho mais próximos da parte da nossa história que ficou pra trás.
Isabella Souza, Formanda dos cursos EFA, Turma I

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