Carla Botas | É PsicoLógico!

A vida decorria normalmente, com as nossas queixas habituais, o stress diário e a rotina que nos prendia quando a 1 de fevereiro de 2020, o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) reportou um total de 11955 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus, incluindo 17 profissionais de saúde e 259 óbitos na China (desde 31 de dezembro de 2019). Mas não era em Portugal e a vida seguiu normalmente sem grandes alarmismos, afinal a China é noutra parte do mundo… O coronavírus foi identificado pela primeira vez no final de 2019 em Wuhan. Parecia estar tão longe que ninguém ficou sobressaltado, no entanto, este vírus rapidamente se disseminou por todo o mundo, pois vivemos numa “aldeia global” e a azáfama dos negócios, do comércio, do capitalismo e mesmo do lazer leva milhares de pessoas a viajar de um continente para outro. E eis que em março de 2020, o primeiro-ministro António Costa comunicou que Portugal estava em Estado de Emergência e entrámos em confinamento. Este confinamento trouxe não só o isolamento social, como a angústia da incerteza, a tristeza e a necessidade de nos adaptarmos à realidade, que passou a ser “aos quadradinhos”. Pais e filhos passaram os dias a olhar para ecrãs, aulas via Teams ou Zoom, reuniões online, emails. A casa passou a ser escola e trabalho e não havia espaço para tudo, muito menos para podermos manifestar as nossas emoções, e fechámo-las a sete chaves. Queríamos sair e não podíamos, queríamos socializar, conversar cara a cara e voltar à rotina, aquela que tanto desvalorizamos e que agora parecia um sonho digno de Hollywood. Crianças sem poderem ser crianças, idosos fechados em si mesmos, perdidos na sua solidão, adultos com medo e sem recursos internos para fazer face a este desafio pandémico. As ruas desertas lembravam o cenário de um filme de ficção científica e o silêncio que se ouvia lembrava que o mundo tinha parado por momentos. O planeta agradeceu a diminuição da poluição e a natureza pôde recuperar o fôlego por alguns instantes.
Ao fim de algum tempo, crianças e pais já dominavam as videoconferências e surgiram novas rotinas em casa. Muitas pessoas iniciaram a prática de exercício físico, fazendo aulas virtuais com algum professor de um ginásio e as redes sociais inundaram-nos com aulas de Pilates, Ioga, Zumba e HIIT (High Intensity Interval Training). Esta era a forma de manter alguma atividade física para manter a saúde (física e mental), pois o exercício físico estimula a produção de dopamina, que é um neurotransmissor responsável por modular, por exemplo, as emoções, a atenção, a capacidade de aprendizagem e o sono. E foram tantas as pessoas a sofrer de insónias no confinamento… Muitas outras pessoas dedicaram-se à comida de conforto, super saborosa, mas altamente calórica! E os doces? Aqueles que nos faziam, por breves instantes, esquecer a pandemia, mas que teimavam em deixar uns quilinhos extra na balança. Foram estas algumas das estratégias que se adquiriram para lidar com uma realidade desconhecida até então, para nos conseguirmos adaptar a um mundo pandémico e ao isolamento. Mesmo as situações mais adversas permitem-nos aprender e evoluir, desde que sejamos resilientes e tenhamos capacidade de introspeção, autoanálise e sentido crítico, mas para isso é essencial o equilíbrio emocional, que teimou em faltar em diversos momentos. Posteriormente, houve novos picos de infeções e mortes, que originaram novos estados de emergência e mais um confinamento. Inevitavelmente, o nosso país foi afetado por uma crise económica e social mais profunda, e não nos esqueçamos da crise psicológica. Efetivamente, esta pandemia repercutiu-se na saúde psicológica da população e surgiram diversos casos de transtornos de stress graves, ansiedade, irritabilidade, baixa concentração, deterioração do desempenho no trabalho, transtornos de stress pós-traumático, alto sofrimento psicológico, sintomas depressivos e insónia.
E a nossa saúde mental, saiu reforçada ou abalada desta pandemia?
Carla Botas - Licenciada em Psicologia Social e das Organizações, Pós-graduada em Psicoterapia de Crianças e Adolescentes e Mestre em Avaliação Psicológica

 

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