PróFuturo| Beatriz Menino

Eis que entramos num novo ano, no futuro que até há bem pouco tempo era ansiado por muitos. Eis que entramos em 2020 e, como não podia deixar de ser, especialistas de múltiplas áreas tentam antecipar-se e fazer as suas previsões. Nesta que é a rubrica do futuro da tecnologia e do mercado laboral não podíamos deixar de refletir sobre as nossas expetativas para o ano que agora se inicia.
O ano de 2020 é há muito tido como ponto de referência para metas e objetivos a cumprir por diversas empresas. Efetivamente, no ano de 2017, para a diretora-geral da MSearch (empresa internacional de recrutamento e gestão de carreiras), Mafalda Vasquez, parecia evidente que a capacidade de saber programar seria imprescindível a qualquer pessoa, independentemente da profissão que tenha.
Também Tiago Santos, diretor-geral da Talent Search People, consultora de recursos humanos e recrutamento, numa entrevista ao Observador, relembrou que “Nunca é demais destacar que há cursos que, apesar de prepararem muito bem os alunos para exercer uma atividade profissional, acumulam profissionais no desemprego. Todas as licenciaturas relacionadas com o Ensino, Direito, Geografia e Filosofia são cursos com menos saída profissional, sobretudo se pensarmos nas saídas profissionais mais tradicionais”. Para a Talent Search People, o futuro far-se-ia de nanotecnologia, ecologia e profissões relacionadas com os cuidados pessoais e de assistência. O estudo de 2017 realizado pelo Works Economic Forum foi de encontro a esta afirmação e mostrou que o mais provável era que em 2020 a procura profissional estivesse mais ligada à área das novas tecnologias, apontando como as profissões mais procuradas as de analista de dados, programadores, arquitetos e engenheiros, especialistas em vendas, gestores sénior, designers de produto, especialistas em recursos humanos e especialistas em regulamentação e relações governamentais.


Por outro lado, era expectável que, no ano atual, funções tradicionais, que julgávamos em desuso, voltassem a crescer. Isto porque desde a década passada se tem vindo a falar de um futuro baseado nas novas tecnologias, o que levou a juventude que, normalmente optava por funções mais tradicionais, a enveredar por formações técnicas relacionadas com a evolução tecnológica. No entanto, a sociedade continua a precisar que alguém desempenhe as funções mais tradicionais, e a verdade é que, atualmente, continua a haver mercado para absorver a oferta de profissionais em áreas tecnológicas, mas poucos são aqueles que sabem desempenhar as funções de carpinteiro ou serralheiro, levando, talvez, a que estes sejam tão solicitados e valorizados como aqueles que desempenham as referidas anteriormente.
Mais recentemente, a última edição do guia de tendências de emprego e salário da Hays Portugal mostra-nos uma lista muito vasta de profissões mais procuradas pelas empresas portuguesas em 2020. Contudo, determinados fatores revelam-se cruciais no momento de procura de emprego, tais como a apetência para trabalhar em equipa, as competências técnicas, ética/valores, proatividade e capacidade de trabalho. Por outro lado, a experiência internacional, a rede de contactos e a diplomacia são algumas das competências menos valorizadas pelos empregadores.
Num ramo com tanto dinamismo, como o da tecnologia, tudo está em constante mudança, sendo cada vez menos fácil prever com exatidão o que este ano nos reservará. Ainda assim, com base nas tendências e nos investimentos dos últimos anos, o futuro da tecnologia passará muito possivelmente pelos tópicos que se seguem.
A Hiperautomação: Como já referido em edições anteriores, a automação consiste na sistematização e repetição, especialmente por inteligência artificial, de tarefas, de forma a que estas consumam cada vez menos tempo, mas não perdendo qualidade, e é um futuro cada vez mais próximo e abrangente. A hiperautomação tem como um dos seus focos principais compreender a variedade de mecanismos de automação, como eles se relacionam e como podem ser combinados e coordenados. Esta tendência foi iniciada com a automação de processos robóticos (RPA, de Robotic Process Automation, em inglês).
A Tecnologia para aprimoramento humano: O ser humano é um ser insatisfeito e ambiciona um dia alcançar a perfeição, vendo na tecnologia um meio para atingir tal “capricho”. Assim, a tecnologia será aplicada, cada vez mais, tendo em vista o aprimoramento pessoal, seja ele físico (através da implantação de um elemento de tecnologia no corpo, tal como um dispositivo vestível) ou cognitivo (por exemplo, através do acesso a informações e da exploração de aplicativos em sistemas de computadores tradicionais).
A Transparência e Rastreabilidade: Estes são fatores cada vez mais importantes para os consumidores e essenciais no que toca à segurança digital. É de referir que o desenvolvimento destes componentes se deve focar em áreas como a inteligência artificial, a privacidade, o controle de dados pessoais e a ética.
A Inteligência Artificial (ainda mais evoluída): A evolução desta aérea tem-nos permitido chegar a resultados e descobertas fantásticas, tal como usufruirmos dessas mesmas aplicações no nosso telemóvel. A tendência é que o processo de popularização siga acelerado, ao mesmo tempo que prevê um refinamento nas técnicas de machine learning. Aliás, de acordo com Rodrigo Werlang, CTO da Paradigma Business Solutions, algumas das tendências tecnológicas que vão prevalecer neste ano são, entre outras, Inteligência Artificial e Machine Learning: “Machine learning é um ramo da inteligência artificial para análise de dados que automatiza a construção de modelos analíticos. Essa é uma tendência fortíssima dos últimos anos e pode ser utilizada em vários setores, pois é baseado na ideia de que os sistemas podem aprender dados, identificar processos e até tomar decisões com o mínimo de intervenção humana”.
Os chatbots: Para Werlang, estes programas de computador que tentam simular um ser humano numa conversação também se devem manter como uma das tendências tecnológicas para 2020. Prevê-se que os chatbots, que também utilizam recursos de machine learning, continuem a ser muito usados nas interações entre humanos e máquinas de forma a tornar a experiência mais natural.
A Data Science: Na visão de Adriano Kasburg, gerente comercial na Supero Tecnologia, esta área interdisciplinar voltada para o estudo e a análise de dados, irá ganhar ainda mais força este ano. A Ciência dos Dados, mais do que verificar números de forma isolada, faz análise de dados de forma inteligente e estratégica para os negócios, trazendo vantagem competitiva. “As soluções são capazes de coletar, interpretar e analisar, unindo diversas áreas do conhecimento, como matemática, estatística, engenharia de forma inteligente, incluindo mecanismos como Inteligência Artificial, Machine Learning e Big Data. Estas informações auxiliam na tomada de decisões e crescimento das empresas”, explica o especialista em tecnologia.
A Nuvem: A computação em nuvem levou a que muitas empresas tenham vindo a transformar os seus produtos em serviços. Assim, face à adesão dos consumidores, parece que essa tendência veio para ficar em 2020. Por outro lado, surge a nuvem distribuída, isto é, a distribuição de serviços de nuvem pública para diferentes locais, enquanto o provedor de origem assume a responsabilidade pela operação, governança, atualizações e evolução dos serviços do ambiente. Este avanço tecnológico representará uma mudança significativa no modelo centralizado da maioria dos serviços públicos de Nuvem e levará a uma nova era na cloud computing.
A Internet das Coisas: do inglês, Internet of Things - IoT- é uma pequena parte daquilo que consideramos tecnologia e, com um lucro mundial de U$12.7 bilhões em 2019, a expectativa é que este valor alcance valores ainda mais elevados.
A multiexperiência: Segundo a consultoria Gartner, aproxima-se uma mudança na forma como as pessoas intendem e interagem com o mundo digital. A realidade virtual, a realidade aumentada e a realidade mista já deram início a esta mudança, mas o avanço da tecnologia leva-nos a crer que o futuro é a experiência multissensorial e multimodal. Burke, vice-presidente de pesquisas do Gartner, afirma ainda que "Essa capacidade de se comunicar com os usuários por meio de muitos sentidos humanos fornecerá um ambiente mais rico para o fornecimento de informações diferenciadas".
Em conclusão, o ano de 2020 espera-se repleto de novidades tecnológicas, cabendo-nos a nós receber estes próximos 366 dias de braços abertos, adaptarmo-nos a esta cada vez mais evoluída era tecnológica e continuarmos a investir na melhoria do nosso mundo.

Design by JoomlaSaver