Os pontos e as vírgulas da educação inclusiva|Alda Angelina Pereira dos Santos

No início de novo ano são muitas as resoluções, os desejos, as expectativas. Pensei então não nos meus desejos mas sim nos desejos que os meus alunos formulariam e naquilo que lhes desejo a eles. Foi isto que serviu de mote para olhar o que verdadeiramente significa desejar – pensando em alunos, em professores e, por isso, na Escola. Em primeiro lugar, senti a necessidade de esclarecer o que significa a palavra. Quando falamos de desejo, podemos referir-nos a coisas diferentes. E, de facto, se formos ao dicionário, encontramos esta distinção. Afinal, desejar tanto pode significar apetecer como querer verdadeiramente, que são coisas bastante diferentes. Tenho oportunidade de conhecer aquilo que lhes apetece no imediato mas, acima de tudo, tenho oportunidade de conhecer aquilo que querem verdadeiramente, ainda que nem sempre sejam capazes de o pôr em palavras. Para além de me ser dada a oportunidade de conhecer aquilo que desejam, sinto que, enquanto professora, a missão que recebo me torna responsável por isso. Esta responsabilidade vem, acredito eu, da convicção de que a Escola tem um papel nisto – na forma como os alunos desejam. Que papel?. Conhecer a origem da palavra “desejar” ajuda a ir mais fundo. A sua etimologia remete-nos para a palavra “desiderare”, que significa: fixar as estrelas. Lembrei-me dos navegadores portugueses, que se orientavam a partir das estrelas. Mais do que um olhar para cima, era-lhes pedido que fixassem as estrelas para que pudessem ter um olhar em frente. Afinal, desejar exige saber ter este olhar diferente. Exige olhar em frente de forma consciente e responsável – com, diria eu, os pés na terra. Exige olhar em frente de forma apaixonada e animada – com, diria eu, o coração centrado no essencial, naquilo que verdadeiramente importa. Então, sim, olhar em frente tem muito que se lhe diga. Assim, enquanto professora, sou chamada a criar oportunidades reais de treinar este olhar em frente, de pés na terra e de coração centrado; propor-lhes desafios que, todos os dias, os ajudem efetivamente a crescer, com sentido, nos e para os desejos que formulam; contribuir para que tudo o que aprendem, que envolve tanta coisa e tão diferente, e a forma como aprendem os leve a crescer para serem a pessoa que desejam ser para o mundo; acompanhá-los de perto para que tomem consciência de tudo isto. Como é que isto se faz? Não sei se há uma receita, mas sei que é uma tarefa exigente. Para a Escola ser lugar onde se treina este olhar – entre tantas outras coisas que lhe são pedidas – há, de certeza, um primeiro passo a dar: o de mudar. Isto significa que alunos trabalharão de forma diferente: para que a sua aprendizagem possa efetivamente estar ao serviço dos desejos que têm. E os professores? Também. Acho que é por isso que a Escola também é o lugar onde se aprende a ser professor. Afinal, a Escola é lugar onde se aprende a desejar. É lugar onde se aprende a olhar em frente, de pés na terra e de coração centrado.

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