Alice Marques|Notícia

“Exposição e privacidade nas redes sociais” foi o tema do colóquio que decorreu no auditório da Calazans Duarte, no dia 27 de março, promovido pelo grupo de filosofia, integrado no ciclo Filosofia ComVida.
A temática insere-se num âmbito mais vasto de formação para a Cidadania na Era Digital e teve como palestrantes o Engº Mário Antunes, professor no Instituto Politécnico de Leiria, e Tiago Leal, Comissário da PSP da Marinha Grande.
Fernanda Leitão, professora coordenadora do grupo de filosofia, abriu o colóquio fornecendo alguns dados sobre a utilização das redes sociais no nosso país: “Portugal é o 3º país europeu que mais usa as redes sociais; cerca de 6 milhões de portugueses têm perfil online”. Deu alguns exemplos de como as relações humanas se têm vindo a alterar pelo uso das redes, com destaque para a amizade. E a propósito, Adelina Fadul cantou “Too many friends” (“Demasiados amigos”), dos Placebo, acompanhada ao piano pelo irmão, João Paulo Fadul. A lírica desta canção é suficientemente elucidativa, por isso a transcrevemos no final desta notícia.
O Engº Mário Antunes, doutorado em Ciências Informáticas e especialista em cibersegurança, expôs com toda a clareza três tópicos sobre a Internet (rede tecnológica que tornou possível tudo aquilo a que chamamos redes sociais e não só): oportunidades, desafios e riscos. E começou com uma analogia fácil de entender: “há 100 anos eram poucos os automóveis, as estradas eram más e os condutores também; depois o número de automóveis foi aumentando, as estradas melhoram e os condutores foram adotando uma condução defensiva. Assim se passa com a Internet: criada há 50 anos, para uso exclusivamente militar, a partir de meados dos anos 80 expande-se e hoje todos estamos ligados na grande rede global que é usada para o bem e para o mal”, disse Mário Antunes.
Explicitou, de seguida, que cada vez há mais dispositivos que funcionam através da rede, cujas vulnerabilidades desconhecemos, desde as consolas de jogos, à Smart TV, câmaras de videovigilância e as Apps que nascem como cogumelos. E mais. O facto de os utilizadores da rede não serem apenas consumidores, mas se terem tornado produtores, faz com que toda a utilização deixe uma pegada digital, que se pode resumir na expressão “uma vez na Internet, para sempre na Internet”, porque é potencialmente impossível apagar a pegada. A Internet é a autoestrada para a eternidade!
Os dados, que os utilizadores da rede disponibilizam, na maioria das vezes sem ter consciência disso, tornaram-se a “nova e maior riqueza” do século XXI. Que o digam a Google, a Amazon ou o Facebook, empresas que faturam biliões de dólares porque dispõem dos nossos dados, sob os quais não temos qualquer controlo.
E porque na Internet não é “reservado o direito de admissão”, pode entrar qualquer um, com boas ou más intenções, continuou o Dr. Mário Antunes. Enunciou uma lista dos ciberataques a que o ciberespaço é vulnerável, alguns dos quais eram desconhecidos do público: Malware, Phishing, Ransom, Cyberbullying, Sexting, Cyberstalking, Typosquatting…! Mostrou ainda alguns sites de Fake News e deixou conselhos sobre cuidados a ter para proteção digital individual, alguns dos quais decorrem do mais elementar bom senso: “ter cuidado com o que se publica; não usar a mesma password para tudo, não abrir mensagens suspeitas que terminam com Clique aqui”, em suma, concluiu este perito em cibersegurança: “a segurança possível depende da nossa condução defensiva”, retomando a analogia com que iniciou a palestra.
O comissário Tiago Leal deu conta dos crimes mais comuns praticados através da Internet, para os quais, afirmou, “a polícia está cada vez mais preparada”. A lista de recomendações para a utilização da rede com o máximo de segurança terminou com uma frase cuja eloquência dispensa qualquer comentário: antes de publicares dados sobre ti, questiona-te: “o que é que ganhas em publicar essa informação pessoal?”

“Demasiados amigos”:
O meu computador pensa que eu sou gay
Eu atirei esse pedaço de lixo fora
Na Champs-Élysées
Enquanto voltava para casa

Este é meu último comunicado
Através da auto-estrada [da informação]
E tudo o que tenho a dizer
Num único volume

Eu tenho demasiados amigos
Demasiadas pessoas
Que eu nunca vou conhecer
E eu nunca vou estar lá para elas
Eu nunca vou estar lá para elas
Porque eu nunca estarei lá

Se eu pudesse deitar tudo fora
Tudo voltaria para mim um dia?
Como uma agulha no feno
Ou uma pedra cara

Mas eu tenho uma razão para declamar
Os aplicativos são os culpados
Por toda a minha tristeza e minha dor
De me sentir tão sozinho

Eu tenho demasiados amigos
Demasiadas pessoas
Que eu nunca vou conhecer
E nunca vou estar lá para elas
E nunca vou estar lá para elas
Porque eu nunca estarei lá

O Meu computador pensa que eu sou gay
Qual é a diferença afinal
Quando tudo o que as pessoas fazem todos os dias
É olhar para um telefone?

Eu tenho demasiados amigos
Demasiadas pessoas
Que eu nunca vou conhecer
E nunca vou estar lá para elas
E nunca vou estar lá para elas
Porque eu nunca estarei lá

Eu nunca estarei lá
Eu nunca estarei lá
Eu nunca estarei lá
Eu nunca estarei lá

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