Inês Duque |Pé de dança


Abril é o mês histórico da nossa nação, pelo que, após a Revolução de 25 de Abril de 1974, também conhecida por Revolução dos Cravos, foi possível mudar de um país de ditadura para um país democrático. Graças à liberdade de pensamento e expressão foi possível evoluir culturalmente e preservar tanto a história como o património.
Foi neste ambiente de ameaça de rotura e desvanecimento de referências culturais, pela assimilação de culturas exógenas, que se assistiu a uma crescente valorização das identidades e das memórias coletivas locais, em Portugal. Foi, também, nesta época, no seio de uma sociedade mais democrática, que o movimento de defesa da cultura tradicional e popular portuguesa (ou do folclore nacional) obteve maior importância.
Deste modo, assistiu-se à valorização do folclore nacional. Com efeito, a valorização da dança tradicional teve como um dos objetivos a oficialização do Dia Nacional do Folclore Português, tendo como proposta o último domingo de maio.
As danças folclóricas são uma manifestação popular, sendo que fazem parte de uma importante componente cultural da humanidade. A maioria é de origem desconhecida, sendo passada de geração em geração.
No caso de Portugal, cada região possui a sua tradição folclórica. Pode destacar-se o fandango, a dança de roda, a valsa de dois passos, a chotiça, o corridinho, o vira e o verde-gaio. Atualmente apresenta-se ainda uma modernização e adaptação de técnicas praticadas a nível internacional como a Dança Clássica, a Dança Moderna e Dança Contemporânea.
De facto, por exemplo, o corridinho é uma tradição algarvia, que se dança aos pares, sendo que as mulheres se movimentam por dentro e os homens por fora. Giram no seu lugar, movimentando rapidamente os seus pés. O corridinho faz, ainda, parte do folclore local da Estremadura. Por outro lado, na Madeira, o estilo mais popular é o bailinho. Esta dança é acompanhada por um brinquinho (instrumento regional tradicional, feito com castanholas, fitilhos e bonecos de pau vestidos com o traje regional que, ao chocalharem contra a cana que os sustem, emite som). No Minho (Alto Minho) existe uma variedade de danças tradicionais, tais como: o Vira, a Cana Verde e o Malhão. A característica que mais sobressai das mesmas, excluindo a dança em si, é o vestuário das mulheres que, com as suas cores e acessórios variados, embelezam a coreografia, deixando o ambiente mais elegante e bonito.
Após o 25 de Abril, o folclore nacional ganha importância através, não só da dança tradicional, como também da influência de outros estilos que o mesmo assimilou. Sendo assim, é criada, em 1977, a Federação do Folclore Português. A mesma teve como um dos objetivos criar um dia nacional para a dança folclórica, visto que é um dos traços culturais de Portugal.
Noutro plano cultural, e traduzindo a abertura ao exterior, na década seguinte, a Revolução dos Cravos permitiu, ainda, a abertura de espaços para lazer e para dançar, intitulados, mais tarde, de discotecas. Exemplificando: em 1988, em Lisboa, foi construída a famosa discoteca “Kremlin” (atualmente encerrada), sendo esta um local de entretenimento e de baile.
Infelizmente, a maioria das discotecas que atraíam multidões nos anos 1980 e 1990, na região Centro, está atualmente encerrada, algumas em completo estado de abandono, e apenas sobrevivem na memória de quem as criou, lá trabalhou ou as frequentou.
Mais perto da nossa região temos a Green Hill, na Foz do Arelho, a Hot Rio em São Pedro de Moel, mais a norte a Locopinha e Stressless (Praia do Pedrógão),o Pessidónio e Amnistia (Figueira da Foz) e a Mirassol na Praia de Mira. As noites de Coimbra viram desaparecer casas como a Scotch e Via Latina até à Repvblica, em Castelo Branco, entre muitas outras. O roteiro varia em histórias para contar, mas não na mesma realidade: portas fechadas.
Assim, as discotecas que inicialmente eram um sinal de prosperidade e de modernização, passam a tornar-se um vestígio da era revolucionária que se caracterizou pelo espirito sonhador e popular.
Em suma, o 25 de Abril tornou-se um dos símbolos nacionais que ajudou na mudança de um país ditatorial e antiquado para um país democrático onde existe liberdade de expressão e todos têm os mesmos direitos. De facto, houve a possibilidade de Portugal modernizar a sua cultura e de a revelar internacionalmente.

 

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