Diplomas de esperança
Jorge Carreira Alves

O “Dia do Diploma”, instituído já há alguns anos letivos para assinalar o término da sempre marcante caminhada pela escola, mais propriamente pelo ensino obrigatório, tem, talvez injustamente, passado desapercebido por muitos daqueles que deveriam ver nele um momento fundamental nos seus percursos de vida, já que, para muitos, marca a passagem da sempre inesquecível vida de estudante para a vida profissional, ou, pelo menos, assinala uma passagem de um espaço de sonhos e utopias, em que se está protegido por família, amigos e corpo escolar, para um outro, quantas vezes longínquo, onde os desafios e as responsabilidades são constantes.
Apesar disto, nem todos atribuem a este momento a importância que ele merece.
No último dia 6 de outubro, no auditório da nossa escola, eu entendi que, para além de tudo o que se poderia dizer acerca deste marcante momento, os diplomas entregues, conjuntamente com os processos dos nossos ex-alunos, assumem um significado muito mais profundo e indelével: naqueles papéis, que contam histórias de vida, assinala-se o fim de uma etapa importantíssima da história de cada um mas, é também neles que os nossos jovens irão ancorar as suas esperanças, os seus sonhos futuros, as suas ambições.
Assinalado será também este dia, já que, pela primeira vez na nossa escola, aqueles nossos alunos que, pelas nossas insuficiências em lhes darmos respostas mais adequadas, os rotulamos como “alunos com currículo específico individual”, receberam das mãos do Diretor do agrupamento e de outros seus professores os diplomas de término do seu percurso escolar, diplomas que, talvez mais do que para os outros, representam muitas vitórias só conseguidas com muito esforço e resiliência, sendo também um símbolo da esperança que, apesar de tudo, estes alunos não perdem.
E em boa hora a escola não se esqueceu destes seus elementos mais desprotegidos, mais tocados pelos nossos preconceitos, mais abandonados da sorte, ou da ainda muito imperfeita sociedade em que vivemos.
E, ao contrário de alguns dos seus colegas que encontram sempre muitas razões, motivos muito mais relevantes para desdenharem deste momento e o marcarem com a sua ausência e desinteresse, estes nossos alunos viveram-no com uma sincera e profunda emoção, compreendendo que, naquele diploma e naqueles processos está muito das suas aprendizagens, muito das suas emoções, está o seu crescimento como seres humanos e, sobretudo, está aquela ligação aos professores, funcionários e colegas com quem compartilharam coisas tão importantes das suas vidas, está, de certa forma, uma família que os escolheu para os proteger e ajudar.
Foi deveras relevante o modo como o nosso Diretor interagiu com todos estes alunos, de igual forma como o fez com os seus outros colegas, transmitindo-lhes que, efetivamente, todos fazem parte integrante de uma escola que se orgulha da sua diversidade e dos diferentes caminhos que propõe aos seus alunos.
Nós, os que ficaremos por aqui, ajudando outras gerações de alunos a encontrarem os seus caminhos, não iremos esquecer: a alegria ingénua e contagiante do Tony, a rebeldia inconformada da Daniela, a timidez assustada da sempre afetuosa Joana e a impulsividade questionadora da Cátia, cuja rebeldia e inconformismo só esconde um coração enorme e generoso. Através destes quatro alunos também gostaríamos de relembrar aqueles que, no ano letivo precedente (2016/2017) concluíram esta caminhada, embora, por um indesculpável esquecimento que só revela muito do que teremos para andar para, realmente, termos uma escola verdadeiramente inclusiva e integradora, não tenham recebido estes diplomas: a sonhadora e artista Ana Milene, o rebelde e impulsivo João, a tímida Inês e a doce Jéssica.
A todos estes alunos, que tanto nos marcaram e aos quais nos ligam sinceros sentimentos de grande ternura, só poderemos desejar todas as felicidades, e que a sorte nunca os abandone, para que não percam as forças para enfrentarem todas as adversidades que se lhes apresentem nos duros e sempre desafiantes caminhos da vida.

 

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