Luján Medina |Voltei à escola

Este trabalho foi inteiramente dedicado à validação dos meus conhecimentos empíricos e teóricos racionais e até dogmáticos em diversas áreas, com um objetivo marcado (obter o grau de escolaridade do 12ºano) mas igualmente, sem eu dar por isso, acabo por perceber que também está dedicado a mim própria, numa espécie de catarse, ou “purificação” como dizia Aristóteles.
Hoje consigo ver que a realização deste RVCC permitiu-me perceber que não importa a idade, nem as obrigações nem os preconceitos que possamos ter em relação ao processo, a verdade é que trouxe dignidade e um aumento da minha própria autoestima porque posso alcançar qualquer objetivo. A escolha é minha.
O meu nome é Luján Medina, tenho 47 anos, sou natural do Uruguai, casada com um cidadão português, mãe de três lindas crianças (os melhores projetos da nossa vida), ex-oficial de polícia, atualmente me desempenho como massagista terapêutica e iridóloga e esta é a minha história.
Eu e o meu irmão crescemos no seio de uma família de classe média, graças à ajuda económica que os meus avós maternos providenciaram, pois eles estavam bastante bem, quando comparados com a frágil situação da grande maioria das famílias no início dos anos 70 do século passado. Dez anos antes, o meu país já se encontrava numa crise socioeconómica importante e em franca deterioração política pois existiam rumores de tentativas de golpe de estado, alentados por algumas figuras governamentais.
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Lugar de trabalho, ano 1997: Esquadra Polícia de Mulheres. Ali fiz tarefas de investigação e prevenção de crimes perpetrados contra mulheres e crianças, especializados em problemas do foro familiar e de género. Trabalhavam uns 50 elementos femininos e eu era uma das 6 Oficiais que compunha a equipa toda. Aqui a Polícia foi levada pela necessidade de fazer parte de um projeto inovador como foi a criação da Direção de Violência Doméstica e de Género através do Escritório Departamental da Polícia Comunitária as quais dependem do Sub Chefe de Polícia de cada departamento do país.
Com o avanço tecnológico também tivemos a oportunidade de verificar que nós não somos o único ponto do globo a padecer deste flagelo, há muitos outros países onde se tem podido verificar uma crescente onda de violência contra os mais débeis (mulheres e crianças), e todos os dias somos testemunhas, às vezes silenciosas, deste tipo de crimes que atentam contra os direitos humanos.


Devemos continuar a denunciar e principalmente a educar, para evitar que ocorrências como estas continuem a acontecer. De aí a enorme importância que adquirem os programas educativos e os professores como personagens orientadores, pois cumprem um papel preponderante na vida de qualquer sociedade. Um Estado sem professores está condenado à ignorância e à violência. Já Platão, na sua obra “A República”, alertava para a importância do papel do professor na formação do cidadão.
Para conseguir concretizar tantos projetos que nos são tão importantes, devemos contar com apoio económico, político e tecnológico. Reconheço que foi bastante triste e complicado ouvir relatos por parte das vítimas, tanto adultas como crianças. Quanto mais tempo passava nesta Esquadra, mais era a minha vontade de ajudar as pessoas, mas deparei-me com incessantes impedimentos a nível legal que fizeram com que alguns desses casos não pudessem ser satisfatoriamente resolvidos. Às vezes a justiça não vai de mão dada com a lei e os seus procedimentos.
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Quanto as normas de biossegurança que sigo no meu local de trabalho, como é evidente são todas ações voltadas à prevenção, minimização e eliminação dos riscos da atividade que podem comprometer a saúde. A massoterapia é considerada de risco baixo, principalmente porque não envolve perfurações da pele.
Existem diferentes tipos de riscos, como os acidentes, que podem envolver fatores que coloquem a pessoa em situação de perigo; risco ergométrico, que envolve tudo o que pode afetar a pessoa negativamente de forma psicofisiológica, por exemplo: levantamento de pesos, excesso de trabalho, repetição e vício posturais inadequadas. Com este tipo de dolências, tenho vários pacientes, alguns que vêm dos ginásios da zona, outros apresentam problemas causados pelo trabalho realizado frente aos computadores, submetidos a um stress constante devido às suas profissões e que acabam adquirindo vícios posturais e muitos outros que apresentam encurtamento do músculo psoas ilíaco e várias contraturas em ombros e costas, assim como tendinites.
Também estão os riscos físicos, onde há exposição de energia que podem ser prejudiciais, os ruídos, temperaturas, materiais cortantes e radioatividade. De risco químico, temos os produtos e composições prejudiciais que possam penetrar no organismo, poeiras, gases, cremes e óleos. Finalmente o risco biológico, que envolve patógenos prejudiciais como infeções, alergias, viroses, fungos e bactérias e para evitar este tipo de assuntos é que trabalho com materiais descartáveis e tudo é trocado depois de cada paciente e a maca é limpa com álcool de 70º na sua totalidade, mas qualquer antisséptico serve e as toalhas são lavadas na máquina com água quente a 60º.
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Balanço
Devo dizer, com toda justiça, que fazê-lo deu-me uma satisfação pessoal totalmente inesperada. Que grande viagem fiz graças a este RVCC!!
Ingressei na Turma 5, eu e mais dez pessoas, assistindo a várias sessões para conhecer o Referencial de Competências e tentar interiorizar todas as dicas e informações que em cada uma delas recebíamos por parte das Professoras Alice, Helena e Fernanda e a Técnica Patrícia, que teve a gentileza de nos receber e ajudar com total disponibilidade durante tudo o processo.
Aproveitei este profuso trabalho escrito para aprender a reciclar, algumas coisas sobre a história de Portugal, relembrei sobre a história do meu próprio país, o meu bairro, a sua gente, os meus amigos e principalmente aprendi um pouco sobre mim, descobri que sou uma pessoa crítica nos seus juízos e que o meu sentido do humor é sarcástico, e gostei!
Achei que esta é uma excelente forma de libertar as minhas emoções e vê-las desde uma certa distância para poder analisá-las com tranquilidade e com alguma imparcialidade, e por tal, sinto-me muito grata às professoras e colaboradoras que trabalham todos os dias com grande profissionalismo e genuíno interesse para dar-nos os elementos necessários para concluir os estudos e se calhar iniciar outros que nos tragam grande júbilo pessoal e porque não, económico.

 

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