Alice Marques | Entrevista

No âmbito do programa Erasmus+, o Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente recebeu, na semana de 10 a 14 de dezembro, dois professores do Instituto de Educação Secundária Veles e Vents, de Gandia (Comunidade de Valencia- Espanha).
Paco Escolano, Vice-Diretor da Escola, e Salvador Colomar, Inspetor Pedagógico, cumpriram um programa intensivo: assistiram a uma dezena de aulas, integraram o Cordão Solidário e ouviram a Palestra sobre Violência nas Relações Interpessoais, participaram em atividades do projeto Comunidades de Aprendizagem - a Tertúlia Pedagógica Dialógica e Grupos Interativos-, reuniram com a Equipa Multidisciplinar de Apoio à Inclusão, observaram Oficinas de Formação e Centro de Apoio à Aprendizagem. Completaram a agenda com um curto programa cultural e com uma entrevista ao Jornal P&V, na qual fizeram um balanço desta semana de Job Shadowing.
P&V: - Talvez possamos começar com um balanço geral da semana…
Salvador Colomar: - O balanço é positivo, muito positivo. Quero começar por destacar duas ou três observações: a organização do Agrupamento e a quantidade de pessoal não docente que apoia o trabalho pedagógico. E também, de acordo com a perceção que tive, a predisposição dos alunos para aprender.
Paco Escolano – Quero acrescentar que, no âmbito do programa Erasmus, este Job Shadowing tem como objetivo aprender com os outros, criar redes colaborativas e fazer nascer novos projetos pedagógicos.
P&V: - De tudo o que observaram, o que querem destacar como muito positivo?
S.C.: - Os cursos profissionais, a sua organização em 3 anos, que me parece muito mais adequado do que os 2 que temos em Espanha, e como funcionam.
P.E.: - Achei o ambiente da escola secundária como se fosse uma escola superior, com os alunos circulando livremente pelo espaço escolar.
P&V: - E o que registam como negativo?
S.C.: - Negativo, nada. Apenas alguns aspetos que podem ser melhorados. Por exemplo, na implementação do projeto Comunidades de Aprendizagem, observamos pequenas falhas, normais, visto que só começaram este ano. Nós estamos neste projeto há 5 anos, já aprendemos e melhoramos muito.


P&V: - Podem concretizar?
S.C.: - Por exemplo, as Tertúlias Dialógicas. A participação deve ser ativa e desde o princípio. Não basta ler umas fotocópias no momento. A participação deve ser preparada. Só assim podem ter argumentos válidos nas intervenções, porque houve tempo para refletir…
P.E.: - … se não há essa preparação, a Tertúlia Dialógica transforma-se numa tertúlia de café.
S.C.: - Mas verificamos grande recetividade dos professores nesta modalidade formativa. Estavam envolvidos.
P&V: - Observaram, esta manhã, como funciona o projeto (PPIP) da escola da Fonte Santa, com as classes juntas, do 1º ao 4º, a trabalhar num projeto comum. Que vos pareceu esta metodologia?
S.C.: - Muito importante e correta. Os mais crescidos funcionando como modelos para os mais pequenos. Esta organização está mais próxima da vida real. Na vida real, as pessoas não se organizam por idades, coexistem e convivem, com diferentes idades, partilhando diferentes saberes.
P.E.: - Esta experiência serve como laboratório de investigação pedagógica.
P&V.: - Não é habitual, nestes programas de mobilidade, os inspetores fazerem parte das equipas. Há grandes diferenças na função de inspetores, entre Portugal e Espanha?
S.C.: - Sim, há diferenças. Os inspetores pedagógicos, em Espanha, têm sob sua tutela um conjunto de escolas e a sua atividade inspetiva é permanente. Por exemplo, eu sou inspetor de 9 escolas, (7 das quais estão em Programa Erasmus). Todas as semanas acompanho o trabalho nas escolas, observando aulas, analisando resultados dos alunos, fazendo recomendações aos professores para melhorá-los. Às vezes reúno só com pais, ou só com professores. Claro que também há algum trabalho de gabinete, verificando a organização, o cumprimento da legislação…
P&V: - Por aquilo que observaram neste Agrupamento de escolas, diria que em Portugal, os diretores têm mais ou menos poder do que nas escolas espanholas?
S.C.: - Em Portugal os diretores têm mais poder e mais autonomia.
P.E.: - Não o digo porque o inspetor está aqui, mas claro que há formas distintas de exercer a função de inspetor. A participação do inspetor Salvador nestes programas europeus é um apoio fundamental e legitima os projetos em que a escola participa.
P&V: - Que outra diferença querem destacar?
S.C.: - As pessoas. Todas, nas escolas, desde o diretor aos professores, são muito acessíveis e parecem estar muito envolvidas no trabalho da escola.
P&V: - Quero terminar com uma pergunta provocatória: acham que o programa Erasmus é realmente importante para construir a cidadania europeia?
P.E.: Isso é inquestionável!
S.C.: - Erasmus é o programa mais poderoso para criar coesão entre os estados europeus. Por isso afirmo que não é apenas importante, é necessário. Contudo… Espanha foi o 1º país da U.E. no Erasmus e… veja o que acontece na Catalunha, o desemprego global no país…! Algo mais temos de fazer para criar coesão económica e social. Erasmus sim, mas não chega.

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