Alice Marques |Um Mês uma Eco-Escola

Chego ao Jardim de Infância da Amieirinha numa solarenga manhã de novembro. Cá fora, o chão atapetado de folhas recorda-me que é outono. Dolores Mesquita, educadora e coordenadora do estabelecimento, vem receber-me à porta. Lá dentro, o silêncio é total. Custa-me a acreditar que estejam ali 42 crianças dos 3 aos 5 anos. Mas estão! Dolores leva-me à sua sala onde a educadora Flávia vai respondendo aos pedidos das crianças. Subitamente, duas dezenas de meninos e meninas, rompendo o silêncio, recebem-me com esta bela canção:
Era uma vez uma gotinha
Pinguinho, pinguinho, pinguinho
E com outras gotinhas
Ela fez um regatinho

A gotinha atarefada
Correu, correu, correu
Atravessou a estrada
E no esgoto se escondeu

Encontrou tanta porcaria
Que ia a sufocar
Mas ai que alegria
À estação foi parar

Rodou, rodou, rodou
Até ficar doidita
Quando ao rio chegou
Ia limpinha e bonita

E assim termina a história
Pinguinho, pinguinho, pinguinho
A limpeza teve vitória
E os chefes juizinho.

Depois, voltam a concentrar-se no seu trabalho de pintura. Na sala da educadora Marina Nobre, os grupos distribuem-se por vários pontos. A máquina fotográfica provoca agitação momentânea, mas, após meia dúzia de disparos, logo os meninos e meninas retomam as suas “tarefas”.
A Dolores leva-me para uma salinha, onde toda a decoração é feita de materiais reciclados, que não me deixam esquecer ao que vou: falar do projeto eco-escola. Este será o ano da água e chama-se “Às voltas com a água”. A água é um dos três temas básicos obrigatórios de tratar em cada ano letivo. Todos serão abordados, mas, este ano, o enfoque será na água.
O Jardim de Infância da Amieirinha entrou no projeto eco-escolas em 97/98, o 2º ano de implementação em Portugal. Foi nesse ano que Dolores Mesquita criou as personagens Dona Gota e Senhor Pingo, que foram protagonistas de várias histórias, e escreveu os versos de “Gotinha de água”, para uma música tradicional portuguesa, “Música da Pastora… larau, larau, larito”. Muitos meninos e meninas, hoje homens e mulheres, conviveram com estas personagens que já tiveram grandes desempenhos ao longo das duas décadas: foram empurrar as turbinas na Barragem de Castelo de Bode, regaram uma horta biológica no quintal da escola, desfilaram pela cidade no Carnaval…


Este será também um ano intenso, pois muitas das atividades do projeto contam com a sua participação. Andaram ao Pão por Deus, vão desfilar no Carnaval, mas o ponto culminante será a conclusão do projeto que envolve várias escolas do Agrupamento: acabar o quadro tridimensional que mostra o ciclo da água, cuja estrutura já foi produzida, por alunos de um curso profissional da Calazans Duarte, e ir a outras escolas mostrar como funciona, mesmo que não sejam eco, porque “o que fazemos é mais importante do que um nome ou uma bandeira”, diz Dolores Mesquita.
Em outubro passado, o Jardim de Infância da Amieirinha teve uma auditoria do projeto. A avaliação “foi muito positiva”, diz a educadora, enquanto vai mostrando as “evidências”, que aliás estão por toda a parte, e também, inevitavelmente, sob a forma de relatórios. Essencialmente formativa, esta avaliação foi importante, sobretudo porque “a auditora viu e foi dando dicas para tornar mais eficaz aquilo que fazemos”, conclui Dolores Mesquita.

 

 

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